“O colapso da confiança em meio à disparada inflacionária mergulhou as empresas nos mares revoltos de uma recessão sem fundo” Paulo Guedes, economista
Concluindo a série “Temporada de Balanços 2015”, neste artigo apresentamos a posição consolidada do desempenho das empresas e bancos de capital aberto com informações extraídas de nosso Banco de Dados SABE. Observamos demonstrações financeiras individuais de 308 empresas e 25 bancos.
A planilha a seguir retrata a dramática situação das empresas em 2015: mesmo tendo alcançado aumento de 13% nas receitas em 2015 em relação ao ano anterior, o resultado líquido do conjunto das 308 empresas ficou negativo em R$66 bilhões em 2015 anulando TODO o lucro obtido em 2014.
Com relação aos bancos a situação é totalmente diferente: receitas e lucros do conjunto dos 25 bancos cresceram quase que na mesma proporção em torno de 30% de 2014 para 2015.
Do lado das Empresas, em 2015 os 10 maiores lucros totalizaram R$48 bilhões e foram gerados por: Ambev S/A, Itausa, Jbs, BBSeguridade, Cielo, Telef Brasil, Braskem, BRF SA, Cemig e Cemig GT, enquanto que os 10 maiores prejuízos vieram de Vale, Petrobras, Eletrobras, BNDESPAR, Oi, Gerdau, Gol, Usiminas, Pdg Realt e Bradespar num total de R$131 bilhões. Só aí vemos um saldo negativo de R$83 bilhões.
Do lado dos Bancos, em 2015 os 5 maiores lucros juntos foram de R$65 bilhões (coincidência ou não, equivalente ao resultado líquido agregado das empresas) e foram oriundos de: Itauunibanco, Bradesco, Brasil, Santander BR e BTGP Banco. Dos 5 menores resultados líquidos de bancos em 2015, 3 deles (Indusval, Merc Financ e Finansinos) apresentaram prejuízos e 2 deles tiveram lucros menores (Banco Pan e Merc Invest); no consolidado esses 5 resultados alcançaram um total positivo de R$176 milhões.
Este cenário de perdas das empresas e ganhos dos bancos é antigo, embora surpreenda o elevado tamanho das perdas. A consequência é ruim para ambas as companhias: as empresas precisam renegociar suas dívidas num momento de juros elevados e créditos escassos, ao mesmo tempo em que os bancos reduzem seus empréstimos e passam a se concentrar em controle de inadimplência e renegociação de contratos.
Como noticiado em O Globo de 03/Abr/2016, com caixa fragilizado as empresas renegociam dívidas com bancos para manter ativas suas operações. De 2014 para 2015 o volume de crédito renegociado nos 5 maiores bancos do país cresceu 11,6% atingindo o montante de R$67,3 bilhões. Para o especialista em reestruturação de dívidas Tiago Lopes, “até companhias bem administradas estão enfrentando dificuldades para se manterem solventes”. Por conta disso, grandes companhias de diferentes setores estão recorrendo à renegociação de dívidas, tais como: Usiminas, Rossi, AES Sul, Light, Arteris e PDG Realt. Diante deste cenário os bancos estão mais flexíveis para negociar.
As figuras seguintes ilustram a difícil situação do momento com a evolução da inadimplência das empresas tendo atrasos de dívidas acima de 90 dias: crescimento de 47% em 14 meses, de Dez/2014 a Fev/2016, bem como o volume recorde de provisões dos bancos contra calotes: crescimento de 188% de Jan/2005 a Fev/2016.
COMENTÁRIOS FINAIS:A grave crise política e a recessão econômica, agravada pela alta dos juros, quedas no preço das commodities e alta do dólar vem impactando de forma perversa o desempenho das empresas brasileiras, em particular as de companhias de capital aberto listadas na bolsa.
Em nossos artigos vimos alertando para a questão do elevado endividamento das empresas em patamares acima da capacidade futura de sua geração de caixa. Para enfrentar a crise muitas empresas de diversos segmentos estão recorrendo a renegociação de débitos, corte desenfreado de pessoas e venda de ativos para evitar a recuperação judicial. Com tendência de inadimplência crescente os bancos deverão elevar seus provisionamentos para devedores.
Seguindo a lógica de preservação da espécie de Darwin, vão sobreviver as empresas que possuírem robustez financeira e capacidade de geração de caixa em cenário adverso para superar a crise. Enfatizamos que mesmo com crise, existem empresas bem administradas e com boa governança, que se destacam em seus setores e que sabem lidar com a incerteza e até mesmo tirar proveito dela: são as empresas que vieram para ficar, resilientes, preocupadas com criação de valores compartilhados por todas as partes interessadas no seu sucesso e na sua sustentabilidade de longo prazo.
A SABE Consultores tem o propósito de compartilhar informações úteis e atualizadas sobre as empresas brasileiras com professores, universitários, contadores e investidores individuais. Manteremos você atualizado, como de costume, com novas informações extraídas do nosso Banco de Dados SABE.
Aproveite para deixar o seu comentário ao final desta página sobre os desempenhos dos balanços de 2015. Até a próxima!
Luiz Guilherme Dias é Sócio-Diretor da SABE Consultores, Consultor de Empresas e Conselheiro Certificado.