Por Luiz Guilherme Dias | 17/Dez/2015.
O famoso romance “As Viagens de Gulliver” (de Jonathan Swift) inicia-se com o naufrágio do navio onde ele estava e que foi arrastado para uma ilha fictícia chamada Lilliput num lugar do Oceano Índico. Os habitantes desta ilha, chamadas lilliputianos, tomaram Gulliver por um gigante, pois eram pessoas minúsculas (com menos de seis polegadas de altura, cerca de 15 centímetros). Foi através dos lilliputianos que estavam constantemente em guerra por futilidades que Swift demonstrou a realidade inglesa e francesa da época.
O romance inspirou a elaboração deste artigo que discute o “gigantismo” como sendo uma doença de muitas empresas brasileiras que cresceram seguindo uma prática comum do século XXI: “ou você compra ou é comprado”. Fazendo uma analogia simples imagina uma pessoa que de tanto crescer acabou ficando com uma obesidade mórbida com excesso de peso colocando em risco a sua vida. Para combater a obesidade mórbida em alguns casos pode ser preciso fazer uma cirurgia de redução de estômago. Portanto melhor que crescer é desenvolver a empresa para evitar os males de um crescimento doentio.
Muitas vezes o gigantismo gera uma espécie de esquizofrenia, em que cada área da empresa ganha vida própria. Mesmo empresas complexas podem se manter grandes e eficientes, mas precisam seguir regras estratégicas inegociáveis. A pressão para separar uma empresa em duas cresce no mundo. Casos aqui e lá fora mostram que o negócio pode valer a pena. Mas, com a recente onda de fusões, é um erro ver aí uma panaceia. A cisão dos negócios passou a ser vista como uma espécie de mágica para empresas com desempenho medíocre na Bolsa. As empresas resultantes de uma cisão valorizaram muito mais que a média das companhias americanas ao longo de 2013. (Fonte: Exame).
No Brasil tivemos em Abr/2013 um bom exemplo: o Banco do Brasil separou sua divisão de seguros, previdência e capitalização e criou a BB Seguridade fazendo seu IPO na Bovespa. Resultado: o BB antes do IPO valia US$35bilhões; após o IPO o BB passou a valer US$24bilhões e a BB Seguridade US$20bilhões, caracterizando um ganho em valor de mercado para o grupo de US$9bilhões com a separação na época.
Gigante pela própria natureza como diz o nosso hino, o Brasil abriu oportunidades para empresas que cresceram nos últimos anos de forma muito rápida, muitas delas por aquisições, como por exemplo: Grupo EBX, Banco Pactual, JBS, Ambev, Kroton. Temos também grandes empresas tradicionais como Petrobras e Vale que por outros motivos estão encolhendo, fazendo cortes de investimentos, demitindo muitas pessoas e vendendo ativos. Existem outras como o Bradesco que continuam fazendo aquisições.
Veja agora o que o nosso Banco de Dados SABE tem a revelar sobre os principais “gigantes” de nosso mercado acionário em termos de evolução de 2013 para 2015 do valor de mercado em RSbilhões.
20 Maiores – Valor de Mercado – 2013 a 14/Dez/2015
Fonte: SABE © Da observação da planilha acima percebemos:
Voltando a discussão sobre a questão do gigantismo das empresas, no século passado a missão dos administradores era tão somente maximizar a riqueza dos acionistas. Atualmente o principal objetivo da administração é maximizar o valor da Empresa, agregando valor, melhorando os processos, inovando e aprendendo. O foco agora é a busca de valor.
Criar valor é diferente de obter lucro e de conseguir valorização das ações. Criar valor é gerar uma rentabilidade superior ao custo de oportunidade composto pelo retorno equivalente dos títulos de renda fixa, acrescido pelo nível de risco a que se está exposto ao optar pelo investimento em uma determinada companhia. Além disso, a gestão hoje se tornou extremamente complexa pela necessidade de atender as inúmeras partes interessadas no sucesso da empresa, os “stakehoders”, como ilustrado na figura abaixo.
A Complexidade da Gestão Empresarial – Stakeholders
Fonte: Prof. Cid Alledi Comentários Finais: Como dissemos anteriormente, crescer não é problema desde que a complexidade dos negócios seja bem administrada, o que convenhamos não é fácil. Segundo um levantamento com 250 executivos entre as 500 maiores do país os três principais focos de complexidade são: estrutura hierárquica, estratégia e processos. A maioria absoluta dos executivos acredita que há mais burocracia do que o necessário e que as decisões são lentas. Em meio à complexidade, os funcionários não conhecem a estratégia – uma receita pronta para o fracasso. (Fonte: Betania Tanure). As principais causas das dificuldades que as empresas gigantes enfrentam são as mais variadas, algumas por não terem atingido um grau de profissionalização compatível com seu tamanho e ainda dependerem do seu fundador ou CEO, como por exemplo: Grupo EBX:
Deixe o seu comentário ao final desta página sobre como você percebe a questão do “gigantismo” das empresas em nosso país.
Luiz Guilherme Dias é Sócio-Diretor da SABE Consultores, Consultor de Empresas e Conselheiro Certificado.


Fonte: SABE © Da observação da planilha acima percebemos:
- as três maiores por valor de mercado em 14/Dez/2015 são uma cervejaria (Ambev) seguida de dois bancos (Itauunibanco e Bradesco);
- as três maiores perdas de valor de mercado de 2013 para 2015 são, na ordem: Vale (-68%), Pão de Açúcar (-53%) e Petrobras (-51%);
- houve um equilíbrio meio-a-meio nas 20 maiores entre aumentos e quedas de valor de mercado na comparação 2013 x 2015, confirmando a tese que mesmo complexas as empresas podem se manter grandes e eficientes.


Fonte: Prof. Cid Alledi Comentários Finais: Como dissemos anteriormente, crescer não é problema desde que a complexidade dos negócios seja bem administrada, o que convenhamos não é fácil. Segundo um levantamento com 250 executivos entre as 500 maiores do país os três principais focos de complexidade são: estrutura hierárquica, estratégia e processos. A maioria absoluta dos executivos acredita que há mais burocracia do que o necessário e que as decisões são lentas. Em meio à complexidade, os funcionários não conhecem a estratégia – uma receita pronta para o fracasso. (Fonte: Betania Tanure). As principais causas das dificuldades que as empresas gigantes enfrentam são as mais variadas, algumas por não terem atingido um grau de profissionalização compatível com seu tamanho e ainda dependerem do seu fundador ou CEO, como por exemplo: Grupo EBX:
- multiplicidade de divisões de negócios desde petróleo (OGX) até entretenimento (IMX);
- o muitos negócios com grande sinergia entre si, porém crescendo numa linha estratégica “tudo ou nada”, cujo mote foi título de um livro sobre a história do Grupo;
- o de 2005 a 2012 foram criados 13 novos negócios (MMX, OGX, MPX, OSX, REX, AUX, IMX, BRIX, SIX, NRX, RJX e CCX) com a sagaz capacidade empreendedora do CEO e o aproveitamento do dinheiro farto dos investidores estrangeiros;
- o no fim de 2013 a OGX (principal negócio do Grupo) e a OSX entraram em recuperação judicial, e no ano seguinte o Grupo EBX teve que se desfazer de vários ativos para evitar uma quebradeira.
- o alto grau de diversificação e controle de negócios (Estapar, Brazil Pharma, Mitsubishi Motors do Brasil, Bravante, Estre, CCRR, UOL, BodyTech, Leader e BR Properties);
- o o banco alcançou R$188bilhões em ativos em 30/09/2015 e cresceu a taxas invejáveis nos últimos seis anos;
- o no fim de Nov/2015 o CEO foi preso sob a acusação de conspirar e negociar a fuga para a Espanha de Nestor Cerveró (ex-diretor da Petrobras, preso durante a Operação Java a Jato);
- o o BTG perdeu mais de 50% de seu valor de mercado desde o dia 25/Nov/2015 quando ocorreu a prisão de seu líder: em 9/Dez/2015 aquele valor era de R$14bilhões.
- o controlada pela União Federal, que detém diretamente 50,26% de suas ações ONs e 28,67% do capital social total, embora sendo companhia aberta com ações negociadas em bolsa, durante muitos anos a companhia serviu ao Governo Federal como instrumento de controle da inflação para regular o preço dos combustíveis;
- o a operação Lava a Jato da Polícia Federal mudou totalmente o rumo da empresa com denúncias de corrupção em várias áreas do alto escalão;
- o a gigante tem em seu portfólio de negócios 41 subsidiárias/controladas, além de 27 coligadas;
- o os problemas de corrupção somados a alta do dólar e a queda do preço do barril de petróleo para US$39/barril, equivalente hoje a metade do que valia quando o pré-sal foi descoberto, estão obrigando a estatal a fazer grandes demissões (foram cerca de 130 mil empregados terceirizados nos últimos 18 meses), a reduzir em US$7bilhões os gastos operacionais e a cortar US$11bilhões de investimentos;
- o toda a cadeia de produção de petróleo no Brasil está sendo impactada com perdas gigantescas.
- o como outras gigantes do setor de mineração a Vale vive hoje o fim do “superciclo das commodities”;
- o o preço do minério de ferro ficou estável por muitos anos, pois o mundo desenvolvido já tinha feito sua industrialização, mas acabou desabando de US$192/ton em 2011 para US$39/ton hoje (queda próxima a 80%) principalmente por conta da desaceleração da economia chinesa;
- o como consequência a companhia anunciou corte de 49% nos investimentos previstos para 2020 em relação a 2015;
- o em Jun/2015 a Vale controlava ou detinha participação relevante em cerca de 290 empresas coligadas/controladas.
